Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver
um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as
pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque
são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se
chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por
causa da casa.... Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e
das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos
pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha
entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser
combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas,
tomam decisões. O amor transformou-se numa variante
psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor
tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de
se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero
fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor
doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto
de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados
tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia,
são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem,
tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides,
borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se
apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a
tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como
um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo
tempo?"
Miguel Esteves Cardoso
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Obrigada meus queridos pelos comentários :)
Thanks my darlings for comment my blog :)